Fizeram uma crueldade com meu marido', diz esposa grávida de homem agredido até a morte, em Paço do Lumiar
Familiares denunciam o caso envolvendo Jerder Pereira da Cruz, de 35 anos, que foi assassinado na madrugada de domingo (27) para segunda (28), no bairro Novo Horizonte, em Paço do Lumiar, Região Metropolitana de São Luís.
Naquela noite, Jerder foi agredido por várias pessoas, segundo testemunhas, que alegam que ele estaria sendo violento e invadido uma igreja. Ele foi levado a um hospital, mas não resistiu.
Porém, familiares de Jerder afirmam que ele estava em um surto psicótico e não merecia ser morto. A Polícia Militar também teria evitado atender o caso por se tratar de um 'surto' e, quando chegou, Jerder já estava muito machucado.
O caso
Jerder era um paciente diagnosticado com esquizofrenia, segundo familiares, mas há anos tomava remédios que o deixava controlado. Com isso, ele se tornou barbeiro, cuidava da companheira e teve dois filhos.
Contexto: A esquizofrenia é um transtorno mental grave que muda o modo como a pessoa pensa, sente e se comporta. Em crise, a pessoa pode ter alucinações, perder a noção da realidade e ter dificuldades de entender a diferença entre o imaginário e o que é real. Por isso é comum uma pessoa com crise de esquizofrenia ver ou ouvir coisas que não existem.
“Eu passei pelo primeiro surto, que fez ele ser internado e diagnosticado com esquizofrenia. Ele tomava os medicamentos, mas ficou quatro meses sem tomar a medicação porque dizia que já estava 100% bom. (...) Ele era um ótimo profissional, uma pessoa boa e sempre considerei meu marido, pai dos meus filhos, a pessoa que eu queria cuidar"
No entanto, na madrugada da última segunda-feira (28), Fabiana conta que Jerder teve um segundo surto psicótico ainda em casa que o deixou violento e com falas desconexas.
"Esse segundo surto foi muito forte e não consegui contê-lo. Ele saiu de casa tendo delírios, dizia que estava ouvindo vozes. Esse não era o comportamento normal dele. Ele deu uma tijolada na casa do vizinho e estava agressivo e não me escutava. Tive de ir atrás de um lugar para botar meus filhos porque estava preocupada comigo, para não que acontecesse nada com a gente, mas também estava preocupada com ele", relata.
Na mesma madrugada, Jerder foi visto quebrando objetos e agindo com agressividade com as pessoas. Por causa disso, ele foi perseguido por moradores, que o lincharam, segundo o registro da Polícia Militar.
O registro na PM aponta ainda que os moradores alegam que ele teria tentado roubar a igreja, mas acabou sendo detido. Um vídeo postado nas redes sociais mostra Jerder tentando fugir e entrando em uma igreja, onde deixou marcas de sangue.
Posteriormente, Jerder foi encontrado por Fabiana sem roupas, amarrado e com várias marcas de agressão. Fabiana diz que tentou chamar a polícia desde o início, mas não foi atendida.
"Fui informada que não era 'caso de polícia' e que eu deveria ligar para o SAMU ou os bombeiros. Mas eu estava precisando uma pessoa até para me resguardar. Eu queria que a polícia fosse atrás dele comigo pra gente pegar ele e esperar a ambulância", contou.
Após as agressões, Jerder foi levado para um hospital e preparado para passar por cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu. Agora, a mãe que espera um filho de Jerder pede por justiça.
"Quando eles [policiais] entregaram meu marido, eles já me entregaram ele todo cheio de hematomas e as pessoas tinham ido embora. A cara dele estava toda inchada, ele estava todo quebrado, todo sanguentado, sem dente. Deixaram meu marido sem dente. Fizeram uma crueldade com meu marido e, enquanto eu fui pedir ajuda, ninguém me ajudou. Eu quero justiça por tudo que está acontecendo com ele, tudo, dessa forma cruel. Não é justo o que fizeram com ele"
A Delegacia de Homicídios informou que ainda não está investigando o possível crime de linchamento porque o caso foi registrado na Delegacia de Polícia do Maiobão como 'morte a esclarecer'.
Fonte: G1 MA