Dia Internacional da Mulher: elas são responsáveis por 33% dos lares

Separada há 5 anos, e com dois filhos, um de 7 e outro de 6 anos, a representante comercial Ana C. Luz se desdobra para sustentar a casa e a família. O ex-companheiro sumiu após a separação. E sobrou para ela todas as responsabilidades. “Ainda bem que conto com a minha família para me dar suporte com os meus filhos, mas a parte financeira é só comigo mesmo. Só posso contar comigo mesmo. Infelizmente essa é uma realidade de muitas mulheres”, disse.
Ana tem razão. Essa é a luta de muitas mulheres Brasil afora. Trabalhar, cuidar dos filhos, da casa, cuidar de si. Tarefa árdua, mas que se impõe, conforme aponta um levantamento realizado pelo Instituto Opinion Box entre 14 e 24 de fevereiro de 2025, com 1.383 entrevistas com mulheres de todo o país, para marcar o Dia Internacional da Mulher.
Em um mundo onde as mulheres são cada vez mais protagonistas de suas histórias, elas assumiram de vez a liderança no controle financeiro das famílias, em especial as de menor renda. Isso, muito em função da necessidade, mas em outros casos, por uma questão de independência financeira mesmo.
“Sempre vi a luta da minha mãe dentro de casa, sendo mãe, dona de casa, cuidado de tudo, trabalhando dentro de casa e sofrendo privações porque não tinha renda. Então, mesmo com todas as dificuldades me empenhei em trabalhar desde cedo para não passar pelo que ela passou. É muito bom, embora que seja pouco, você ter a sua independência financeira, e de alguma forma poder prover dentro de casa”, disse a autônoma Maria Clarice Sousa.
De acordo com o levantamento, 93% das mulheres contribuem financeiramente para o sustento do lar, sendo que, em 33% das famílias, elas são as únicas responsáveis pela geração de renda. Em 2023, o índice de mulheres que participavam das finanças das casas era de 88%.
Desafio maior para mulheres das classes D e E
O desafio é maior para as mulheres das classes D e E, que são as únicas responsáveis financeiras em 43% dos lares. Há uma grande diferença social ao comparar com as classes A e B, quando a responsabilidade feminina pelo sustento familiar cai para 18%. O destaque delas se reforça em relação ao planejamento econômico: 64% das entrevistadas pelo Instituto Opinion Box afirmam liderar a organização financeira da família.

Dados do Nordeste
No recorte específico do Nordeste, a liderança feminina no sustento da casa também é expressiva. 33,2% das entrevistadas na região informam que bancam sozinhas todas as despesas, enquanto 17,9% se dizem as principais provedoras, porém com alguma colaboração. Quando o assunto é dificuldade de acesso a crédito 54,7% das mulheres apontam esse fator como um dos maiores entraves para organizar suas finanças — porcentual superior à média nacional de 46,8%. Por outro lado, o endividamento afeta 26,31% das mulheres nordestinas, ligeiramente abaixo dos 30,9% verificados no país.
Dupla jornada
O protagonismo, porém, traz impactos preocupantes, como revelam 90% das entrevistadas em nível nacional: além do trabalho profissional de gerar renda fora de casa, as mulheres não têm a opção de renunciar às responsabilidades domésticas, tendo de equilibrar as duas frentes ao mesmo tempo. Mesmo assim, 85% delas celebram o fato de conquistarem espaços no mundo das finanças, um terreno predominantemente masculino por décadas.
Chama a atenção, negativamente, o fato de que somente 66% das entrevistadas percebem que o trabalho externo de geração de renda é valorizado dentro da própria casa, um percentual que melhora conforme a renda (83% para alta renda e 73% para média renda) e cai nas famílias de baixa renda (60% para classe D e 53% entre a classe E).
“Felizmente percebemos o crescimento do papel das mulheres na gestão financeira dos lares, tomando esse papel de garantia de um orçamento familiar sob controle”, afirma Patrícia Camillo, gerente da Serasa. “Acostumadas a gerenciar a rotina e até situações de escassez, elas conseguem equilibrar as reais necessidades à renda disponível e se mostram mais preocupadas em evitar o endividamento familiar”, confirma a especialista em educação financeira.
Felizmente percebemos o crescimento do papel das mulheres na gestão financeira dos lares
Outros dados da pesquisa
- A dificuldade de obter crédito (47%) e o endividamento (31%) são os principais desafios enfrentados pelas mulheres no Brasil. No NE, os percentuais são 54,79% e 26,31%, respectivamente.
- Quanto mais jovens, mais dificuldades as mulheres têm de conseguir crédito: são 62% das mulheres da Geração Z, 48% entre Millennials, 40% entre a Geração X e 16% entre as Baby Boomers.
- 8 em cada 10 mulheres pediram crédito nos últimos 12 meses: pagar uma despesa inesperada (26%), pagar dívidas de cartão (22%) e limpar o nome (21%) são os principais motivos da solicitação.
- 85% das mulheres entrevistadas já tiveram algum pedido de crédito negado.
- As redes sociais são a maior fonte de aprendizado sobre finanças entre as mulheres (33%), seguido pelas informações em site/app de banco (28%) e buscadores na internet (26%).
- 3 em cada 4 mulheres se sentem representadas e mais confiantes quando escutam mulheres falando sobre economia.
Por oimparcial