História viva: quem foi Tiradentes, afinal?

Mas afinal, quem foi Joaquim José da Silva Xavier? O herói barbudo que aparece nos livros com ares de santidade ou um homem de carne e osso, cheio de contradições e nuances?

Conhecido como Tiradentes por exercer a profissão de dentista, ele também foi militar, tropeiro e minerador. Viveu no auge do ciclo do ouro, no século XVIII, quando o Brasil ainda era colônia de Portugal. Foi nesse cenário de cobranças abusivas de impostos e desigualdade social que participou da Inconfidência Mineira — um movimento que buscava a independência da região de Minas Gerais e propunha a criação de uma república.

Curiosamente, Tiradentes só foi reconhecido como herói nacional décadas depois de sua morte. Quando a República foi proclamada, em 1889, o novo regime precisava de ícones e símbolos próprios — e encontrou nele o mártir ideal. A imagem difundida a partir daí foi cuidadosamente construída: cabelos longos, barba espessa, traços serenos. Tudo para que ele parecesse com Jesus Cristo, reforçando sua figura de mártir e símbolo de sacrifício em nome da pátria.

O o Imparcial conversou com Maria Vitória, estudante de História, que reforça a importância de refletir sobre os significados atribuídos a Tiradentes.
“O Tiradentes é um exemplo claro de como a história é ressignificada com o tempo. Ele saiu do papel de traidor para se tornar símbolo de liberdade e resistência. Isso mostra que a forma como interpretamos os acontecimentos do passado depende muito do momento histórico em que estamos. A República precisava de um herói, e o transformou nesse ícone”, afirma.

Estudante de História, Maria Vitória

Ela complementa: “Mas também é importante pensar até que ponto a imagem dele construída nos livros e estátuas representa quem ele realmente foi. Ele era humano, com falhas e qualidades. E talvez seja isso que o torne tão interessante até hoje.”

Ao falarmos da história do Brasil, é imprescindível citar a construção de heróis nacionais no intuito de criar uma identidade e memória coletiva. A figura de Tiradentes encaixa-se nesse processo. Sua imagem foi lapidada para atender à necessidade de um símbolo durante o surgimento da República — e, assim, permanece viva até hoje.

Por oimparcial