MA registrou quase 4 mil afastamentos de trabalhadores por causa de transtornos mentais em 2024

Em 2024, o Maranhão registrou 3.997 afastamentos de trabalhadores por causa de transtornos mentais, como ansiedade e depressão. É o que revelam dados exclusivos do Ministério da Previdência Social sobre afastamentos do trabalho no Brasil.
Os dados, obtidos com exclusividade pelo g1, mostram que, no último ano, os transtornos mentais chegaram a uma situação incapacitante como nunca visto. No Maranhão, os problemas que mais levaram os trabalhadores a pedir afastamento do serviço foram ansiedade, depressão e transtorno bipolar (veja os dados completos na tabela abaixo).
Afastamento de trabalhadores por causa de transtornos mentais no Maranhão
DOENÇA | CONCESSÕES |
Ansiedade | 1.233 |
Depressão | 988 |
Depressão recorrente | 532 |
Transtorno bipolar | 435 |
Esquizofrenia | 245 |
Reações ao "stress" grave e transtornos de adaptação | 212 |
Transtornos Neuróticos | 148 |
Vício em drogas | 87 |
Alcoolismo | 63 |
Transtornos esquizoafetivos | 54 |
Em todo o Brasil, houve 472.328 licenças médicas concedidas em 2024. Na comparação com o ano anterior, essas concessões representam um aumento de 68%. (Veja o gráfico mais abaixo).
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Especial afastamentos por saúde mental. — Foto: Luisa Rivas | Arte g1
O maior número de licenças está nos estados mais populosos como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. No entanto, proporcionalmente, quando consideramos o número de afastamentos em relação à população, os maiores índices foram registrados no Distrito Federal, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
➡️ Não há uma explicação para o índice de cada estado, mas especialistas lembram que no caso do Rio Grande do Sul, por exemplo, houve uma tragédia: a enchente que matou centenas de pessoas e deixou milhares sem casa, afetando diversas esferas da vida dos trabalhadores.
Causas
➡️ E o que explica o recorde de afastamentos em 2024? De acordo com psiquiatras e psicólogos, é reflexo da situação do mercado de trabalho e das cicatrizes da pandemia, entre outros pontos.
🔴 Os transtornos mentais são multifatoriais e não há uma explicação única para o que está acontecendo. Especialistas ouvidos pelo g1 destacam algumas questões, entre elas as cicatrizes da pandemia. Algumas delas são:
- ➡️ O luto pós pandemia, que causou mais de 700 mil mortes.
- ➡️ Estresse emocional após a crise, com anos de isolamento.
- ➡️ Insegurança financeira com o aumento do custo de vida. De 2020 até 2024, o preço dos alimentos subiu 55%. (Leia mais aqui)
- ➡️ Aumento da informalidade;
- ➡️ E o fim de ciclos. Na pandemia, por exemplo, houve um aumento de 16% nas separações.
🔴 Os especialistas também explicam que mulheres são a maioria por fatores sociais: a sobrecarga de trabalho, a menor remuneração, a responsabilidade do cuidado familiar e a violência:
- mulheres ganham menos que homens em 82% das áreas, segundo levantamento do IBGE. (Leia mais aqui)
- Total de casos de feminicídio cresceu 10% nos últimos cinco anos. (Leia mais aqui)
- mulheres foram as mais afetadas pela crise, com maior índice de desemprego e trabalho não remunerado, segundo pesquisa publicada pela revista científica “Lancet". (Leia mais aqui)
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Perfil das pessoas afastadas. — Foto: Luisa Rivas e Thalita Ferraz | Arte g1
Medidas
🔴 A crise fez que o governo federal buscasse medidas mais duras. O Ministério do Trabalho anunciou a atualização da NR-1, que é a norma com as diretrizes sobre saúde no ambiente do trabalho. Agora, o tema passa a ser fiscalizado nas empresas e pode, inclusive, render multa.
Para não depender apenas de iniciativas e também cobrar mais responsabilidade dos gestores, o governo anunciou a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que apresenta as diretrizes de saúde no ambiente do trabalho.
Com as atualizações, o Ministério do Trabalho passa a fiscalizar os riscos psicossociais no processo de gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST), o que pode, inclusive, acarretar em multa para as empresas caso sejam identificadas questões como:
- metas excessivas
- jornadas extensas
- ausência de suporte
- assédio moral
- conflitos interpessoais
- falta de autonomia no trabalho
- condições precárias de trabalho
Segundo Viviane Forte, coordenadora geral de fiscalização em segurança e saúde no trabalho do MTE, a ideia da atualização é trazer mais clareza sobre o tema saúde mental dos empregados e os critérios vão ser exigidos independentemente do tamanho da empresa.
“Caso os riscos sejam identificados, será necessário elaborar e implementar planos de ação, incluindo medidas preventivas e corretivas, como reorganização do trabalho ou melhorias nos relacionamentos interpessoais”, explica a coordenadora.
A fiscalização será realizada de forma planejada, através de denúncias que são encaminhadas ao Ministério. Empresas de teleatendimento, bancos e estabelecimentos de saúde são prioridades por conta do alto índice de adoecimento mental.
As inspeções, que são feitas por auditores-fiscais, verificam o local de trabalho e dados de afastamentos por conta doenças ou acidentes, rotatividade de funcionários, conversam com trabalhadores e analisam documentos para identificar possíveis situações de risco.
Segundo Viviane Forte, coordenadora geral de fiscalização em segurança e saúde no trabalho do MTE, a ideia da atualização é trazer mais clareza sobre o tema saúde mental dos empregados e os critérios vão ser exigidos independentemente do tamanho da empresa.
“Caso os riscos sejam identificados, será necessário elaborar e implementar planos de ação, incluindo medidas preventivas e corretivas, como reorganização do trabalho ou melhorias nos relacionamentos interpessoais”, explica a coordenadora.
A fiscalização será realizada de forma planejada, através de denúncias que são encaminhadas ao Ministério. Empresas de teleatendimento, bancos e estabelecimentos de saúde são prioridades por conta do alto índice de adoecimento mental.
As inspeções, que são feitas por auditores-fiscais, verificam o local de trabalho e dados de afastamentos por conta doenças ou acidentes, rotatividade de funcionários, conversam com trabalhadores e analisam documentos para identificar possíveis situações de risco.
“Isso não garantirá um quadro melhor na saúde dos trabalhadores. Existe uma série de normas técnicas reguladoras sobre a saúde ocupacional, mas continua tendo altos índices de afastamento por acidente de trabalho ou doença ocupacional”, explica Thatiana Cappellano, mestre em ciências sociais e consultora sobre trabalho.
Segundo a especialista, a atualização feita pelo Ministério do Trabalho é uma forma de colocar o assunto em alta. Porém, como todas as outras normas técnicas e regulamentares, isto não altera efetivamente o quadro caso não haja uma mudança por parte das empresas.
Por g1 MA