Voçorocas voltam a engolir casas em Buriticupu, no MA; cidade decreta calamidade pública
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O retorno do período chuvoso trouxe de volta o pesadelo de conviver com o aumento das crateras que ameaçam a vida de milhares de moradores em Buriticupu, no Maranhão. Nos últimos dias, mais casas foram engolidas pelas voçorocas e a prefeitura decretou estado de calamidade pública.
Provocado pela erosão do solo, o problema existe há mais de 30 anos na cidade e já causou destruição de casas e até mortes. Até hoje nunca houve solução ou contenção que evite de forma eficaz o avanço das crateras.
Até 2024, 180 famílias estavam em situação de risco e, em 2025, mais famílias tiveram que deixar as residências próximas de onde as voçorocas já alcançaram.
O decreto municipal de calamidade pública, do dia 11 de fevereiro de 2025, afirma que há 1,2 mil pessoas em 250 moradias situadas em áreas de risco, nos bairros: Caeminha, Centro, Vila Isaias, Santos Dumont, Eco Buriti, Terra Bela, Sagrima e Terceira Vicinal.
No final de janeiro, uma das residências foi engolida na Rua Vitória e provocou desespero nos vizinhos (veja no vídeo acima). A casa, que já tinha sido abandonada, foi levada para o abismo e as demais residências ao redor precisaram ser evacuadas.
Por conta do novo avanço das voçorocas, a Justiça do Maranhão determinou, no início de fevereiro, que o município de Buriticupu adote providências para a contenção das voçorocas, em diversos pontos da cidade. A sentença atendeu a um pedido do Ministério Público.
“O município de Buriticupu ainda não solucionou o problema de forma plenamente eficaz mesmo diante de reiteradas notificações do Ministério Público e dos compromissos assumidos em sede de conciliação, o que justifica a necessidade de uma decisão judicial impositiva”, justificou, na sentença, o juiz.
Consta na decisão judicial que o município deve:
- delimitar e isolar, no prazo de 30 dias, com sinalização adequada, todas as áreas com risco de desabamento e movimentos de massa decorrentes das voçorocas;
- atualizar, no prazo de 30 dias, o cadastro de todas as famílias residentes nas proximidades das áreas afetadas, providenciando aluguel social para aquelas expostas a risco iminente.
- apresentar, no prazo de 120 dias, um plano detalhado para execução de obras de contenção das voçorocas, com cronograma físico-financeiro;
- implementar, em 180 dias, as medidas para mitigação dos impactos ambientais;
- recuperar, ambientalmente, as áreas degradadas no prazo máximo de quatro anos
O prefeito de Buriticupu, João Carlos (PP), reeleito em 2024, afirmou que foram realizadas algumas obras de contenção no ano passado, que estariam ajudando a diminuir os transtornos das chuvas este ano, apesar das reclamações dos moradores de que o serviço 'não teve resultado' (veja a nota na íntegra no final da reportagem).
João Carlos diz ainda que aguarda o envio de recursos e serviços prometidos pelo governo federal, pois estaria trabalhando sem apoios diante de uma realidade que a prefeitura não conseguiria resolver com os próprios esforços.
O g1 entrou em contato com o governo federal sobre as alegações de suposta falta de envio de recursos para os serviços em Buriticupu, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Poucas obras de contenção
Segundo os moradores, nos últimos 30 anos, houve apenas algumas ações paliativas em áreas críticas, como próximo de rodovias. Em outras regiões, as voçorocas seguem avançando e engolindo casas.
Em março de 2023, a Defesa Civil Nacional esteve em Buriticupu avaliando a situação. Na época, foi decretado estado de calamidade pública. O Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional se comprometeu em ajudar a resolver o problema.
Porém, desde então, a prefeitura diz que houve o repasse de apenas R$ 687 mil para aquisição de materiais de assistência humanitária para as famílias desabrigadas, desalojadas e afetadas pelo avanço erosivo das voçorocas.
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Desmatamento causou crateras que ameaçam 'engolir' casas no MA — Foto: Kayan Albertin/g1
Por Rafael Cardoso, g1 MA